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Vacina estimula serviços, mas inflação é ameaça no 2º semestre

Fonte: Folha de S.Paulo
17/08/2021
Geral

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, a economia tende a ser favorecida no segundo semestre pelo setor de serviços, que sinaliza melhora depois de amargar prejuízos em série na pandemia. A tentativa de retomada, entretanto, pode ser abalada por fatores como a escalada da inflação, apontam analistas.

O aumento dos preços é considerado um dos principais riscos para os próximos meses, já que diminui o poder de consumo das famílias e aperta margens de lucro das empresas.

Em junho, o volume do setor de serviços cresceu 1,7% frente a maio, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (12). Com o resultado, o segmento pegou a contramão de outros dois indicadores calculados pelo instituto: a produção industrial e as vendas do comércio varejista.

No mesmo período, a produção das fábricas ficou estagnada, com variação nula (0%). Já o comércio amargou queda de 1,7% em junho.

“O segundo semestre deve ter como destaque o setor de serviços. Deve ser o vetor do crescimento”, projeta a economista Marina Garrido, pesquisadora do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

“O maior risco agora é a inflação. Na pandemia, os preços subiram, mas serviços como restaurantes não conseguiram fazer o repasse”, pondera.

Ao subir 1,7% em junho, o volume de serviços ficou 2,4% acima do patamar pré-crise, de fevereiro de 2020. Conforme o IBGE, o segmento também alcançou o nível mais elevado desde maio de 2016.

O desempenho, no entanto, tem sido puxado por atividades ligadas à área de tecnologia e que dependem menos do contato direto com clientes, apontou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE.

Lobo sublinhou que os serviços prestados às famílias, incluindo alimentação e alojamento, vêm melhorando com o avanço da imunização, mas ainda estão 22,8% abaixo do patamar pré-pandemia. Em junho, esse ramo teve alta de 8,1% frente a maio.

“O setor de serviços é o motor da economia em vários países, inclusive no Brasil. Parece estar retomando. O avanço de 1,7% não é a última bolacha do pacote, mas é encorajador. A volta gradativa, com a vacinação, é positiva”, define Alexandre Espirito Santo, economista da Órama Investimentos e professor do Ibmec-RJ.

Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, também ressalta que a imunização vem gerando alívio para serviços que foram bastante afetados pelas restrições na pandemia. “A vacinação tem trazido resultados positivos, tanto é que a PMS [Pesquisa Mensal de Serviços] surpreendeu”, pontua.

Já a produção da indústria, diz Agostini, é freada pela escassez de insumos nas cadeias globais. Montadoras de veículos, por exemplo, paralisaram atividades no país devido à falta de chips. A normalização dos estoques na indústria deve ocorrer só em 2022, conforme o economista.

Na visão de Agostini, a inflação em alta pode ser considerada como o principal desafio para a retomada econômica no “curtíssimo prazo”, já que atinge diretamente o bolso do consumidor. Nesse sentido, ele lembra que os preços em alta impactam o varejo, cujas vendas recuaram 1,7% em junho.

A escalada da inflação nos últimos meses tem sido puxada pela energia elétrica, que ficou mais cara em razão da crise hídrica. A escassez de chuva derruba o nível de reservatórios de usinas hidrelétricas, forçando o acionamento de térmicas, que envolvem custos maiores. O reflexo é a conta de luz mais alta na casa dos consumidores e nas empresas.

A melhora de serviços pode, inclusive, gerar pressão adicional para a inflação, segundo economistas. A dúvida é o tamanho do repasse para os preços finais no momento em que o setor tenta confirmar recuperação.

“O desemprego também atrapalha serviços, mas não tanto quanto o comércio. É que as pessoas que consomem mais serviços têm renda mais alta, e não sofreram tanto na pandemia”, diz a economista Marina Garrido, do FGV Ibre.

Em relatório, o Banco Original afirmou que o desempenho de serviços “ajuda a explicar parte da perda de tração observada nos dados de varejo”. Segundo o banco, “o dinheiro que antes estava sendo canalizado exclusivamente para o consumo de bens (durante os meses de fechamento das atividades econômicas), agora volta a ser dividido com o consumo de serviços”.

“Olhando para frente, continuamos esperando resultados sólidos do setor de serviços, que ainda deve se beneficiar do avanço da vacinação no país, do ganho de confiança dos agentes e da poupança circunstancial feita pelas famílias mais ricas durante a pandemia e que ainda parece longe de ter sido gasta em sua totalidade”, diz o relatório.

Além da inflação, o controle da Covid-19, em meio à preocupação com novas variantes do coronavírus, e a tensão política em Brasília também representam riscos para o desempenho da economia neste ano, cita Espirito Santo.

Já para o ano de 2022, juros mais altos, incertezas relacionadas às eleições e dificuldades fiscais aparecem na lista de ameaças à atividade econômica, diz Agostini.