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Pequenos empresários se preocupam com segunda onda da pandemia

Fonte: Correio Braziliense
24/11/2020
Coronavírus

Com os casos de covid-19 voltando a crescer no país, empresários da indústria e do varejo analisam a hipótese de uma segunda onda da pandemia, na expectativa de que uma vacina possa ser distribuída logo. Mas, a possibilidade de um novo período de isolamento social preocupa. “No momento certo, vamos estudar, em conjunto com o governo, um caminho. Não temos, agora, uma posição concreta”, informa Carlos Abijaodi, diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Pesquisa da CNI mostra que, em outubro, o setor registrou o quinto mês consecutivo de alta na produção e o sexto de incremento na utilização da capacidade instalada. Mas, a recuperação é lenta, afirma Abijaodi. “Depois do fundo do poço, em abril, o retorno se deu dentro das medidas de segurança.”

Apesar da sinalização do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que, em caso de uma segunda onda da covid-19, pode haver uma extensão do auxílio emergencial, o diretor da CNI afirma que, “primeiro, é preciso diálogo com o setor público, que está com as finanças comprometidas”. A CNI, lembra, propôs ao governo a expansão do crédito para micro, pequenas e médias empresas, entre outras medidas.

O comércio também não se recuperou totalmente, conta Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Para o Natal, a previsão de alta nas vendas é de 2%, em relação a 2019 — “quase um crescimento vegetativo”, afirma. “O varejo se adaptou, ampliou o comércio eletrônico e encontrou algumas saídas. Os serviços, no entanto — hotelaria e turismo, por exemplo — ainda amargam queda de 50% em relação ao período pré-pandemia.”

Bentes considerou importante a sinalização do ministro da Economia. “O anúncio ajuda a dissipar as incertezas”, aponta. Ele lembra que a sociedade, por outro lado, hoje, tem muito mais informações sobre a contaminação, o que colabora para ter mais rapidez na proposição de estratégias.

UTI 

Sócia do Café Gentil, desde 2018, Cristine Gentil buscou linhas de crédito para tentar pagar salários e custos de operação, mas encontrou dificuldades. “A gente estava sem capital de giro. Foi uma coisa muito abrupta. Fechamos as portas no lockdown, em março, até o fim de julho. Tivemos pouco acesso a empréstimos e financiamentos. Não conseguimos nada do Pronampe, apenas um pequeno empréstimo do BRB”, lamenta.

Cristine precisou negociar com fornecedores para honrar os compromissos e contou com a colaboração dos funcionários, que tiveram o pagamento prejudicado, além de renegociar o aluguel. Mesmo usando a modalidade de entregas (delivery), o faturamento despencou, mas ela não demitiu funcionários. Agora, o movimento melhorou e já é possível chegar a 40% do faturamento de antes da pandemia.

Cristine Gentil se preocupa com a possibilidade de outro lockdown. “Vai ser muito difícil aguentar. Agora que a gente está começando a recuperar os clientes, se fechar novamente, a ameaça é maior ainda do que foi a primeira onda”, afirma. “Estamos sobrevivendo por aparelhos, fica difícil pensar em voltar para a UTI. Esperamos que o governo seja sensível a essa parcela da população que emprega muita gente e faz girar a economia”, completa.

Zelma Soares, 40 anos, tinha dois restaurantes antes da pandemia, mas precisou fechar um deles com a crise. O restaurante Sancho Pança, que sobreviveu, fica na Galeria dos Estados, área central de Brasília e, pela localização, servidores públicos são a maior parte dos clientes. Com a adoção do home office, o movimento praticamente cessou. Zelma precisou fazer empréstimos para manter o estabelecimento, e está preocupada. “Infelizmente, não estamos vendo retorno. Não sei como vou fazer em relação a esse empréstimo”, desabafa.

Zelma lembra que, de 10 funcionários, restaram três. “Com a possibilidade de um novo isolamento social, se as coisas não melhorarem, teremos que demitir esses três e apenas eu e meu marido tomaremos conta do restaurante”, afirma. O casal já pensou em procurar um local de maior movimento, mas as condições financeiras os impedem de ir em frente. A solução foi pensar em serviços alternativos. “Estamos lançando uma linha de ceia de Natal, para confraternizações. Bolos e doces também são uma forma de lembrança, uma sugestão de presente para as empresas darem aos colaboradores”, aposta a empresária.