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Big techs devem ser as próximas a mirar serviços de pagamento

Fonte: O Globo
05/04/2021
Tecnologia

A autorização do Banco Central (BC) para que transferências de recursos sejam feitas via WhatsApp deve ser apenas o primeiro passo para a entrada de outras big techs no mercado de serviços de pagamento no país, uma tendência que já ganha espaço no exterior.

Segundo especialistas, a tendência é que pagamentos por aplicativos ou por meio do Pix conquistem cada vez mais adeptos, reduzindo as receitas dos bancos com TEDs e DOCs, que em muitos casos ainda são serviços cobrados.

Ainda não há data para que a funcionalidade esteja disponível. O BC autorizou o WhatsApp a atuar como “iniciador de pagamentos” por meio de parcerias com Visa e Mastercard.

Isso permite o repasse de recursos entre pessoas sem que elas precisem acessar sites ou aplicativos de seus próprios bancos.

Ainda está em análise pelo BC a possibilidade de fazer compras pelo WhatsApp. O aplicativo tem 130 milhões de usuários no país.

— A maior parte dos brasileiros usa o WhatsApp para se comunicar. Os bancos vão usar esses canais também. A instituição que não oferecer oWhatsApp como canal de transferência ficará de fora — avalia Marcelo Martins, diretor da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), que considera que dentro de um ano será possível fazer transações pelo Pix no WhatsApp.

Impacto nas tarifas

Na avaliação de Luis Miguel Santacreu, especialista em sistema financeiro da Austin Rating, dependendo da velocidade com que o serviço se popularizar no país, os bancos podem perder receita.

— Empresas como Amazon, Mercado Pago, WhatsApp poderão atuar dentro dessa nova arquitetura criada pelo BC, o que eleva a concorrência e tende a derrubar preços de tarifas pelas transferências — disse.

Santacreu lembra que o início das transferências pelo Pix já teve algum impacto na receita dos bancos no balanço do quarto trimestre. Na apresentação de resultados, o Itaú reconheceu que houve impacto do novo sistema já que desde meados de novembro passou a não cobrar mais pela realização de TEDs e DOCs.

Claudio Bannwart, presidente da Check Point, empresa de cibersegurança, destaca que a operação não entrou em vigor e é preciso atenção.

— Neste primeiro momento, muita gente pode receber mensagens falsas do tipo “clique aqui e faça sua transferência pelo WhatsApp”. Esse é o risco imediato de fraude — afirmou, embora pondere que, por ser regulado pelo BC, será exigido aumento da segurança no sistema.

Ele continua:

— Mas certamente vamos ver novos golpes surgindo, pois atualmente o sequestro do número de WhatsApp já acontece.

Essa é a preocupação da produtora de eventos Ana Nobre, de 35 anos. Com a chegada da pandemia, ela começou a vender cestas de café da manhã para segurar as contas da família e usa o aplicativo para se comunicar com os clientes.

Ela avalia que quando a compra pelo aplicativo for autorizada, vai ganhar agilidade nas transações, por não ter de sair do aplicativo para entrar no site do banco.

— No início ficarei com medo de golpe, mas, com todos usando, usaria também. É igual ao Pix, antes eu tinha medo. Hoje já faço.

Eliane Monsores, de 49 anos, dona de uma loja de acessórios e roupas femininas em Laranjeiras, faz avaliação similar, a principal vantagem para o comércio é ganhar tempo com o uso do aplicativo para atendimento e pagamentos. Ela já usa a versão comercial do WhatsApp.

— Como atualmente a gente usa várias plataformas, às vezes a venda fica demorada e trabalhosa. Se fosse tudo em um lugar só, seria mais fácil. Tenho meus receios, mas acredito que o WhatsApp e o Banco Central vão ter de criar maneiras de transmitir segurança para o uso — avalia.

Um dos exemplos do que pode estar por vir é o iChat, aplicativo de mensagem chinês que se transformou em um chat bank, com mais de um bilhão de usuários. Nele é possível fazer transferências, pagar contas e obter empréstimos.

Já existem exemplos de fintechs como a Zro Bank que oferecem transferências entre contas da própria instituição, mas não para outros bancos. A estratégia é atrair clientes por meio de transferências gratuitas pelo Telegram.

Regulamentação igual

Para Tiago Severo, sócio do escritório Caputo, Bastos e Serra Advogados e especialista em direito bancário, a autorização do BC abre portas para novas fronteiras de competitividade no país, com as big techs oferecendo produtos e serviços financeiros:

— A partir de agora, as big techs passam a integrar meios de pagamento e, em breve, veremos uma nova onda de competitividade, com moedas digitais de bancos centrais. Quem ganha é o usuário, que vê materializada a livre concorrência.

Em nota, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informou que a entidade e o setor financeiro veem com naturalidade a decisão do BC, que está “em linha com a visão de que a competição é a melhor ferramenta para estimular a inovação, aumentar os benefícios ao usuário e reduzir custos para a sociedade”.

A entidade ressalta a importância de que as regulamentações sejam iguais a todos os participantes do sistema financeiro.