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Chuvas ainda não são suficientes para baixar conta de luz

Fonte: O Globo
19/01/2022
Geral

Apesar das chuvas acima da média nos últimos meses, especialistas concordam com o governo que ainda é cedo para acabar com a bandeira tarifária de Escassez Hídrica e dar algum alívio ao consumidor na conta de luz.

Na quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, confirmou ao GLOBO que o governo ainda não planeja antecipar o fim da vigência da bandeira, que representa uma taxa extra sobre as tarifas de energia cobrada pelas distribuidoras. Deve ser mantido até abril. 

O encargo serve principalmente para compensar o aumento do custo da geração de energia com o acionamento de termelétricas diante da menor capacidade nas hidrelétricas provocada pela crise hídrica de 2021.

Segundo boletim do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), está chovendo mais que a média em janeiro. Mas Roberto Pereira D’Araújo, diretor do Instituto Ilumina, diz que a situação hídrica ainda é crítica.

Segundo levantamento feito pelo especialista, o Brasil está acima dos 35% de capacidade geral dos reservatórios. O ideal para permitir o desligamento das térmicas, para ele, seria 70%.

Isso porque os reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste são responsáveis por mais de dois terços da capacidade de reserva das hidrelétricas do país, ele explica:

— Os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste estão com apenas 33%. Ou seja, é preciso muita chuva ainda para permitir acabar com a a bandeira tarifária da Escassez Hídrica.

Hora de cautela

Lavinia Hollanda, da Escopo Energia, diz que, apesar do aumento das chuvas neste início de ano na principal área de armazenamento para hidrelétricas do país, é preciso cautela. Ainda ainda não se sabe qual será o patamar de chuvas para os próximos meses, pondera: 

— Por isso, não dá para acabar com a bandeira neste momento, pois é preciso entender o que vai vir ainda. Tivemos um mês e meio de chuvas acima da média, mas estamos há dois anos com hidrologia ruim.

O presidente da consultoria Thymos, João Carlos Mello, observa que as chuvas no país entre outubro do ano passado e janeiro deste ano estão 40% acima da média do mesmo período entre 2020 e 2021. Na região Sudeste, esse aumento chega a 100% na mesma base de comparação.

Ainda sim, ele acredita ser mais prudente manter a bandeira tarifária pelo menos até fevereiro:

— O ideal é manter as térmicas acionadas ainda, pois, apesar das chuvas, ainda não sabemos como serão os próximos meses. Por outro lado, o clima mais ameno também tem ajudado a reduzir o consumo de energia, e isso pode ser levado em consideração também.

Reservatórios devem chegar a 40% no fim do mês

Com mais chuvas que a média do ano passado confirmada pelo ONS, a previsão é que o volume de água armazenado nos reservatórios localizados no Sudeste e no Centro-Oeste alcance 40% da capacidade dos reservatórios no fim do mês. Hoje, está em 33,56%.

No Nordeste, a previsão é que o volume saia dos 65,96% atuais para 70,2% no fim do mês. Nas outras regiões, a expectativa é de queda no volume armazenado.

No Norte, a projeção indica 73,2% no fim deste mês, menor que os 78,36% atuais. No Sul, o volume deve cair dos atuais 40,72% para 34,8%, segundo a previsão do ONS em seu boletim do Programa Mensal de Operação (PMO) .

Por que bandeira extra foi criada?

A bandeira emergencial, acima da vermelha, foi estabelecida pelo governo como uma forma de cobrir os custos da geração de energia por termelétricas a gás natural, óleo diesel, carvão mineral e biomassa. 

Essas usinas garantiram o fornecimento de energia no país no momento crítico, em que os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste ficaram em níveis historicamente baixo. O governo acionou todo o parque térmico disponível no país no segundo semestre do ano passado.

Apesar de garantir o fornecimento de energia, as termelétricas têm custos mais altos. Para evitar um colapso financeiro no sistema elétrico, o governo criou a taxa extra e deve manter essa bandeira até abril. 

A bandeira cobre os custos do sistema no ano passado e não neste ano, no início do período úmido.