O salário baixo é o principal motivo de insatisfação com o trabalho no Brasil, e ter carteira assinada ou CNPJ representa um desejo para a maioria dos informais.
As conclusões são da Sondagem do Mercado de Trabalho, uma publicação lançada nesta terça-feira (6) pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
A nova pesquisa pretende consultar mensalmente cerca de 2.000 pessoas espalhadas pelo território nacional. O primeiro relatório apresenta dados apurados ao longo dos três meses iniciais de coleta —agosto, setembro e outubro.
Segundo a nova pesquisa, 72,2% dos entrevistados em agosto estavam satisfeitos ou muito satisfeitos com o trabalho. Por outro lado, os insatisfeitos ou muito insatisfeitos somaram 27,8%.
No segundo grupo, a remuneração baixa foi o motivo mais citado (64,2%) para a insatisfação. Ter pouco ou nenhum benefício (43%) veio na sequência.
A insegurança de um trabalho temporário (23,7%) também esteve entre os pontos negativos mais lembrados. Cada entrevistado pôde escolher mais de uma resposta.
Os percentuais de pessoas insatisfeitas ou muito insatisfeitas com o trabalho foram maiores entre aquelas com escolaridade mais baixa, até o ensino fundamental (37,7%), mulheres (31,9%) e sem nenhum tipo de registro (32,7%).
Os entrevistados atribuíram uma nota de um a dez sobre a percepção de bem-estar com a vida em geral. Quanto mais alta a pontuação, maior a satisfação. A nota média ficou em 7,2 pontos. A marca foi maior entre as pessoas satisfeitas com o trabalho (7,9) do que entre as insatisfeitas (6,1).
A sondagem também traz um detalhamento sobre os trabalhadores informais, que atuam sem carteira assinada ou CNPJ.
Conforme a pesquisa, quase 90% desse grupo gostaria de ter uma ocupação mais formalizada (87,7%). Apenas 12,3% não tinham esse desejo.
No caso dos trabalhadores por conta própria, uma categoria que ganhou força no país, a pesquisa apontou que 69,6% gostariam de mudar de ocupação e ter algum vínculo formal em uma empresa. Outros 30,4% preferiam seguir na mesma situação.
No grupo que gostaria de mudar e ter vínculo com uma empresa, os principais motivos citados foram rendimentos fixos (33,1%) e benefícios que as companhias costumam oferecer (31,4%).
Entre os trabalhadores por conta própria que não desejavam trocar de ocupação, o aspecto mais lembrado foi a flexibilidade de horário (14,3%).
Na visão de Rodolpho Tobler, um dos pesquisadores responsáveis pela pesquisa do FGV Ibre, os resultados sinalizam "cautela" na análise do mercado de trabalho, apesar da recuperação de vagas nos últimos meses.
"A gente tem uma melhora quantitativa, mas a qualidade do emprego ainda não é a ideal", avaliou o economista.
O pesquisador Fernando Veloso, que também participou da apresentação da pesquisa do FGV Ibre, tem opinião semelhante.
O economista destacou que, mesmo com a recente queda do desemprego, há uma grande preocupação com a renda baixa e uma demanda por formalização no país.
"Em termos de mensagem, os primeiros resultados [da sondagem] estão mostrando um grau de vulnerabilidade bastante grande", disse Veloso.
RISCO DE PERDER O TRABALHO
Já na coleta de dados feita em outubro, a pesquisa perguntou aos entrevistados sobre o risco de perder o emprego ou a principal fonte de renda nos 12 meses seguintes.
A possibilidade de ficar sem trabalho ou remuneração foi vista como improvável ou muito improvável por 58,7% do total. No sentido oposto, 41,3% dos entrevistados afirmaram que a perda seria provável ou muito provável.
O temor de ficar sem trabalho foi maior entre os profissionais com renda mais baixa, de até dois salários mínimos (47,5%), do que entre aqueles com renda acima de dois salários (20,4%).
Se a perda ocorresse, a maior parte das pessoas consultadas (66,5%) teria condições de se sustentar por até três meses. Os demais entrevistados (33,5%) conseguiriam bancar as despesas por mais de um trimestre.
A sondagem também buscou medir, na coleta de setembro, o quanto as pessoas estavam preocupadas com diferentes tópicos em um horizonte de cinco a dez anos, incluindo finanças, saúde, habitação e conhecimento.
A área de finanças foi aquela em que houve mais preocupação. "Não estar tão bem financeiramente quanto gostaria" foi o item com a maior proporção de entrevistados (67,6%) que escolheram a resposta "estou muito preocupado". "Minha família não estar tão bem financeiramente" teve o segundo maior percentual (61,9%).