Sob impacto dos juros altos, as vendas do varejo brasileiro para o Dia das Mães de 2023 devem cair 4,1% na comparação com 2022, segundo projeção divulgada nesta terça-feira (2) pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
A expectativa da entidade empresarial é de um volume de negócios de R$ 13,17 bilhões, após a marca de R$ 13,73 bilhões no ano passado.
Se confirmado, o novo resultado (R$ 13,17 bilhões) será o mais baixo em três anos. Ou seja, desde 2020 (R$ 8,29 bilhões), quando o comércio sentiu as restrições da pandemia de Covid-19. Os dados foram ajustados pela inflação.
O Dia das Mães, diz a CNC, é considerado o Natal do primeiro semestre para o varejo. Em 2023, a data será celebrada no dia 14 de maio.
A entidade atribui a projeção de queda nas vendas aos reflexos do crédito mais caro para os consumidores, já que os juros permanecem em nível elevado no país.
"A despeito da desaceleração dos níveis gerais de preços, as condições de consumo se mostram desfavoráveis à ampliação das vendas nesta data em virtude do aumento dos juros na ponta ao consumidor", avalia a CNC.
A entidade afirma que, de acordo com o BC (Banco Central), a taxa média de juros ao ano para pessoas físicas, ao final do primeiro trimestre, estava no maior patamar dos últimos cinco anos e meio (58,3%).
Em meio a esse cenário, os segmentos do comércio mais dependentes das condições de financiamentos tendem a registrar "perdas expressivas" no Dia das Mães, aponta a CNC.
Eletroeletrônicos e utilidades domésticas (-13,9%), produtos de informática e comunicação (-9,7%) e móveis e eletrodomésticos (-3,8%) fazem parte da lista.
De acordo com a entidade, o ramo de vestuário, calçados e acessórios costuma responder pela maior fatia das vendas no período.
A situação não deve ser diferente neste ano. A previsão de faturamento desse segmento é de R$ 6 bilhões, 3% abaixo de 2022.
Com a expectativa de retração real nas vendas, a contratação de trabalhadores temporários no varejo deve ser menor em 2023 (21,95 mil vagas) do que no ano passado (23,7 mil).
O salário médio de admissão, por outro lado, tende a ficar em torno de R$ 1.667,50, o que representa alta de 7,2% ante 2022, segundo a CNC.
Neste início de governo, os juros elevados viraram motivo para uma ofensiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra a atuação do BC. Na segunda-feira (1º), Lula voltou a criticar o patamar da taxa básica de juros (Selic) em um ato pelo Dia do Trabalho em São Paulo.
A taxa básica está em 13,75% ao ano. O Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC, volta a se reunir nesta terça para definir o nível da Selic.
A decisão do colegiado sai nesta quarta (3). Analistas do mercado financeiro projetam manutenção da taxa em 13,75%.
Os juros elevados buscam reduzir a demanda por bens e serviços como forma de conter a inflação. O efeito colateral esperado é a desaceleração da atividade econômica, o que preocupa Lula e aliados.